12 de outubro de 2014

Uma Balbúrdia de Ensino (ou um Ensino de Balbúrdia?)

   Arrependo-me vagamente de ter feito uma entrada tão inútil ontem, mas achei que a retrospectiva seria mais ou menos interessante. Em todo o caso, espero hoje poder redimir-me, e abordar um tema que tem andado mais ou menos na boca do mundo: todo o caos que tem havido em torno da contratação de professores (ou, como aparentemente é designada oficialmente, Bolsa de Contratação de Escolas, BCE). Antes de mais, não sendo professor, nem estando relacionado com o Ministério da Educação, não conheço todos os trâmites, pelo que talvez não possa fazer uma crítica completamente informada; assim, limitar-me-ei a expressar a minha opinião, que, como todas as opiniões, é passível de ser debatida e criticada.

   Não posso deixar de começar por referir todo o ridículo da situação, entre fórmulas erradas (elaboradas por um ministério dirigido por um professor universitário de Matemática…), “mantêm-se” e “manter-se-ão” e situações como mudar-se de casa de Bragança para Faro, que foi para onde se foi colocado, só para se vir a saber que se foi despedido, ou ficar colocado em milhares (sei que exagero) de escolas. Se calhar posso ser só eu, mas… não sei… estará o país a tornar-se uma verdadeira anedota? Já vi coisas menos hilariantes serem consideradas comédias… Enfim, talvez seja só eu que tem tendência para a hilaridade… Mas pronto. A desorganização é algo a que qualquer português digno desse nome aspira, e que melhor maneira de incutir o patriotismo nas gerações vindouras do que demonstrar-lhes directamente as virtudes que devem apresentar (nomeadamente a já referida desorganização)? Desculpem-me a divagação, mas foi o que achei por bem escrever…

   Voltando ao assunto. Todo este problema, que gera grande desconforto (e mais do que desconforto, problemas graves, que mexem com toda a organização de uma vida) aos professores, coisa que estes não mereciam (idiossincrasias de alguns, e do sistema, à parte…), deveria ser eliminado; dever-se-ia providenciar o máximo possível de estabilidade a estes trabalhadores (pois então não trabalham os professores?), tal como aos restantes (sim, discordo do actual paradigma de não haver “trabalho para a vida”, como se costuma dizer). Mas não são muitos os casos em que se ouve dizer que os alunos, que, como terei sempre de advogar, correspondem ao "cliente final" do ensino, também saem prejudicados com esta situação. É certo que são poucos os que se importam com não terem aulas, e que nem sempre as aulas lhes permitem adquirir conhecimentos, mas, mais que não seja, a ausência de aulas pô-los-á (presumivelmente) numa desvantagem face aos outros alunos que as tiveram, sobretudo nos anos em que tenham (indesejavelmente) exames. E isso não se traduz unicamente na matéria que não deram: é de lei (penso eu) que as aulas que lhes faltam sejam compensadas ao longo do ano, roubando ainda mais do pouco tempo livre que o horário lhes deixa, e, em última análise, prejudicando todas as disciplinas, ao diminuir o tempo disponível para o estudo (expressão que não deve, nem nunca deveria, ser entendida como sinónima de tempo livre…).

   E, antes de acabar esta longa (como sempre, como provavelmente alguns leitores abominam) entrada, tenho só de fazer uma referência à minha teoria principal, que nunca deixarei de defender: se a noção de ano escolar desaparecesse, passando as aulas, em vez disso, a decorrer ao longo de praticamente todo o ano civil, este problema, pelo menos na sua forma actual, desapareceria, no sentido em que, salvo no caso de aposentações, despedimentos ou falecimentos (não que os três possam ocorrer em simultâneo…), não haveria necessidade de se contratar novos professores no final de um ano, porque não haveria uma clara clivagem entre um período de actividade lectiva e o seguinte (já que o período em que um professor estaria em actividade seria mais ou menos contínuo, à semelhança da maioria das outras actividades laborais). Talvez tenha sido confuso nesta minha explicação… Por outras palavras, como não há início e fim de ano lectivo (porque não há propriamente um ano lectivo), não há um caos organizacional que se instale numa altura específica em que há necessidade de coordenar um número enorme de colocações de professores, porque essas colocações ocorreriam de forma gradual, ao longo do ano civil, conforme houvesse posições que se tornassem vagas (por qualquer razão que fosse).

   Enfim, bom resto (restinho…) de fim-de-semana aos leitores, e força para aguentarem a semana que aí vem, com chuvas, ventos e tormentos diversos…

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