4 de março de 2017

Das Respostas às Faltas, Das Faltas Respostas

   Caros leitores, escrevo-vos isto (embora só o venha a terminar e publicar posteriormente, decerto) num pedaço de tempo livre originado pela ausência, por doença, necessidade ou planeamento – honestamente, não o sei, e creio que não o queira saber –, de um daqueles indivíduos a que, por etimologias e tradições diversas, se chama, sem grande aparato, professor. Como tal, creio ser um momento tão apropriado quanto qualquer outro para reflectir, precisamente, sobre esse fenómeno (poderei dizer tragédia? Quer dizer, poder posso, não sei é se entenderão e aceitarão a ironia…) das faltas, quer por parte dos professores, quer por parte dos alunos.

   No âmbito do actual sistema de ensino, não há assim muito a dizer-se: creio ser minimamente óbvio para toda a gente o que se passa. Poderia arengar intensamente acerca de toda a questão das ocupações lectivas de tempos livres e do reduzido sentido que, fundamentalmente, fazem (mesmo que defendamos a sua utilidade para impedir os alunos de sair da escola e se meterem em diversos tipos de problemas lá fora, não é necessário sermos tendenciosos na nossa análise para conjecturar que já fortes possibilidades de esses problemas virem, na mesma, a ocorrer: afinal, é pouco menos do que inevitável que uma certa dose de alunos se escape antes de ser possível descrever todos os passos burocráticos necessários para requisitar uma dessas ocupações lectivas de tempos livres, e não me parece que estaríamos a ser incentivar estereotipações diversas se conjecturássemos que aqueles que mais facilmente se escapariam acabariam por ser precisamente os que mais propensão teriam para se meter em problemas…). Ou poderia destacar que os prejudicados por uma falta do professor acabam por ser sempre os alunos, no sentido em que, havendo programas e metas e etcéteras (eu sei, pontapeei o Latim, mas perder-se-ia algum efeito fonético se assim não fosse…) para cumprir, a aula não dada virá a afectar a transmissão da matéria futura, quer no sentido de lhe provocar um ritmo mais intenso (o que, como espero que não necessário elaborar muito, tem vaga tendência a prejudicar a compreensão por parte dos alunos), quer no sentido de levar a que parte dessa matéria seja mais ou menos saltada (o que, enfim, não é tão imediatamente prejudicial, no sentido em que, por vezes, algumas dessas coisas não são tão relevantes assim, mas, por outro lado, pode sempre acontecer que, no fundo, afinal até o sejam), quer no sentido de originarem futuras aulas extra, de modo a possibilitar que se acabe a matéria (o que, embora não traga nenhum problema em termos de matéria, tende a perturbar o horário dos alunos e/ou o seu tempo “livre” – que, lembremo-nos, nem sempre é tão livre assim… –, o que, naturalmente, não é lá muito benéfico…). Ou, poderia, ainda, explicitar o que já se sabe: que, quando o aluno falta, perde a matéria… Mas creio ser melhor não o fazer. Mais do que já o fiz, pelo menos…

   Aquilo de que queria vir mesmo falar era de como é que estas questões todas ocorreriam no âmbito dos Mini-Ciclos de Leccionamento. No texto principal, já são feitas algumas menções a este assunto, mas queria aproveitar a ocasião para o abordar mais especificamente. Ora bem, antes de mais, devo destacar que, sob seja que ponto de vista for, não podemos considerar a falta, quer por parte de alunos, quer por parte de professores, uma situação normal e parte integrante do funcionamento desejável do sistema de ensino; nesse sentido, não podemos tomar nunca a existência de mecanismos para facilitar o processo de reposição das aulas não dadas (ou não assistidas…) como um convite a que não se dê (ou não se assista) a aulas: são, apenas, uma forma de mitigar uma falha que inevitavelmente surgirá, dada a imprevisibilidade intrínseca aos afazeres dos seres humanos. Finda esta relativamente longa, relativamente inútil e (relativamente?) entediante ressalva, poderei, agora, enumerar as possibilidades que os Mini-Ciclos de Leccionamento comportam para esta história das reposições de aulas, quer das não dadas, quer das não assistidas.

   Decorrendo os Mini-Ciclos de Leccionamento como decorrem, e tendo o seu normal funcionamento, por si só, bastante potencial para variados graus de incompatibilidade de horários, poderemos esperar, creio que sem grandes imprecisões, que qualquer tentativa de reposição de aulas, por parte do professor, no pedaço de horário que mais convenha à totalidade dos alunos (e a ele próprio também, claro está…) estará, à partida, quase que condenada ao falhanço, dada a expectavelmente elevada probabilidade de não haver uma hora a que todos estejam disponíveis e/ou dispostos a ir. Nesse sentido, parece-me lógico e lícito implementar aquilo que chamei de “Período de Reposição”, que corresponderia a alguma parte do horário de todos para a qual nunca se poderiam marcar mini-ciclos, mas que poderia ser utilizada, em caso de necessidade, para repor aulas que o professor não pudesse dar. Sem grande reflexão sobre isso, apenas levado pela noção de que parece ser uma boa altura para (quase) nunca se ter aulas, propus – e diria que continuo a propor – que se reservem as tardes de sexta-feira para isso. Mas, claro, se o consenso generalizado for outro, estejam à vontade para efectuar essa mudança…

   Continuando neste lado da reposição das aulas não dadas, também, há uma alternativa mais simples: efectuar aquilo que, no actual sistema de ensino, são, ou deveriam ser, as substituições de aulas – isto é, colocar um professor, devidamente ciente da parte da matéria em que vão os alunos, a dar a aula, tal e qual (à parte eventuais diferenças pedagógicas) como o faria o professor original. É certo que esta mudança mais ou menos abrupta pode prejudicar, mais parcial que totalmente, a compreensão da matéria (principalmente se a aula for dará por um professor cujo método de ensino não se aprecie), mas, nos casos em que o professor saiba antecipadamente que vai faltar e haja um outro disponível para dar a aula, é uma alternativa, a meu ver, admissível (embora não ideal, dado que o ideal seria mesmo não se faltar…) à reposição no período respectivo.

   Uma outra alternativa, ainda, talvez um pouco mais sofisticada, passaria por recorrer ao mesmo tipo de suporte que as aulas à distância para efectuar as substituições anteriormente referidas, o que permitiria aplicar a alternativa anterior sempre que não estivesse disponível um professor substituto na escola e/ou não se soubesse da falta com a antecedência suficiente para mobilizar um. Neste último caso, poderia sempre acontecer que, entre o momento em que se descobrisse a falta e aquele em que se accionassem estes meios, alguns alunos se escapulissem, mas, por outro lado, um sistema de ensino em que andar na escola fosse menos doloroso seria um sistema de ensino com alunos mais motivados e, logo, mais dispostos a ter aula, o que – digo eu – mitigaria a maior parte destas situações.

   Pegando nesta mesma questão das aulas à distância, poderemos passar a falar da reposição de aulas não assistidas. Serão precisamente as aulas à distância o método principal para o fazer, pelo simples facto de ser mais fácil, imediato, personalizado e abrangente do que qualquer outro: se o aluno não pode vir numa altura, recebe as aulas onde e quando quiser, o que, manifestamente, tem muitas vantagens. Nos casos, porém, em que seja incomportável para o aluno a sua principal desvantagem, que se prende, logicamente, com a ausência física de um professor, e havendo, de facto, um professor disponível e disposto a dar-lhe essa aula, não me parece haver nenhum problema em deixarmos que isso aconteça. Há a ligeiramente sinistra hipótese de haver favorecimentos diversos, mas, tendo em conta que não existem propriamente avaliações, apenas verificações, torna-se vagamente difícil falsificar notas, dado estas serem inexistentes…

   Semelhantemente, se uma outra “turma” (no sentido de conjunto de alunos a frequentar o mesmo mini-ciclo) estiver prestes a chegar à mesma parte da matéria, e se o aluno souber disso, houver espaço na sala (esta parte esperemos sempre que sim!) e o professor aceitar que ele assista à aula, não vejo grandes razões para o proibirmos a priori. Naturalmente, pela grande complexidade logística da gestão de horários, serão reduzidos os casos em que isto poderá acontecer, e, de qualquer das formas, as aulas à distância acabarão por ser, como se disse, o método preferencial para se repor aulas não assistidas, mas não me parece fazer mal nenhum deixarmos mais esta hipótese em aberto.

   E creio que isto diz tudo… Devo só frisar que os raciocínios aqui efectuados e as características aqui apresentadas dizem respeito maioritariamente a situações de faltas esporádicas e/ou imprevisíveis, tendo em conta que, sabendo-se, com a devida antecedência, que se irá ter de faltar em cetos dias e/ou em certas horas, e pela flexibilidade inerente aos Mini-Ciclos de Leccionamento, acaba sempre por ser mais ou menos possível gerir as coisas de modo a que não se esteja a leccionar ou a frequentar aulas nessa altura.

   E, por hoje, ou por agora, é tudo. Despeço-me, portanto, calorosamente de vós, leitores, até à próxima entrada…