14 de setembro de 2015

(P)revisões para o Ano Lectivo

   Antes de mais, tenho de deixar bem claro que, ao contrário do que o título poderia fazer pensar, esta entrada não se prende, de forma alguma, com quaisquer actividades de revisão da matéria dada no ano lectivo passado como forma de preparação para o ano lectivo que agora se avizinha. Prende-se mais com algumas actividades proféticas e/ou divinatórias relativamente ao decorrer do próximo ano lectivo, resultantes de uma reflexão que, como aluno (e como aluno atento aos erros e às incongruências do actual sistema de ensino), não pude deixar de fazer.

   De qualquer das formas, terei de começar, como já se tornou um péssimo hábito, por apresentar as minhas desculpas por mais uma demora. Este início de ano lectivo tem-se mostrado relativamente pacífico e tranquilo, pelo menos quando comparado com outros anos (e isso, a meu ver, estará certamente relacionado com as eleições que se avizinham), e são poucos os acontecimentos que se me apresentam como dignos de ser comentados, razão por que não tenho produzido tantas entradas quanto gostaria. Referirei, antes que me esqueça de o fazer, e antes que perca a oportunidade de o fazer, o caso (não muito mediático) de uma aluna egípcia de topo que foi classificada com zero valores nos exames nacionais egípcios; é certo que o caso tem muitas matizes etno-político-religiosas, que são muito mais significativas do que as falhas do sistema de ensino, mas, ainda assim, isto acaba por ser uma boa chamada de atenção para o facto de os exames não serem assim tão objectivos, incontornáveis e impossíveis de falsificar quanto se pensa (é certo que, política e socialmente falando, ainda nos encontramos um pouco distantes do Egipto, mas nada invalida que haja outro tipo de fraudes nos nossos exames, atrever-me-ia a especular no sentido inverso, se é que me entendem…).

   Mas, isto à parte, gostaria de abordar, então, o assunto que me levou a escrever esta entrada. Ocorrendo as eleições cerca de meio mês depois do início do ano lectivo, numa altura em que tudo já foi organizado de acordo com as perspectivas do governo anterior, apresentam-se-me duas alternativas possíveis: ou o próximo governo (independentemente do partido – ou dos partidos – que estejam por detrás dele) não muda nada e deixa este ano decorrer como já foi planeado, ou então muda tudo a meio do jogo e força uma reorganização de acordo com as perspectivas do novo Ministério da Educação.

   Cada uma destas hipóteses traz consigo (como seria de esperar) os seus prós e os seus contras. Se, por um lado, não alterar nada evita que ocorram confusões potencialmente perturbadoras do normal decorrer do ano lectivo (e que perturbariam mais, como de costume, os que saem sempre prejudicados: os alunos…), também permite que se perpetuem os erros e as incongruências do actual sistema de ensino, agravados pela forte tendência avaliacionista (se me permitem o neologismo) que permeia o actual (pré-eleições) Ministério da Educação. Mas, por outro lado, implementar novas políticas na área da educação gera as tais “confusões potencialmente perturbadoras do normal decorrer do ano lectivo”, se me permitem citar-me a mim mesmo, e, de qualquer das formas, pela análise que efectuei relativamente aos programas eleitorais no âmbito da educação, não me parece que a maioria dos erros do actual sistema de ensino fossem corrigidos, nem que as mudanças fossem assim tão significativas…

   Mas, independentemente da acção que poderia ser tomada, ou não, no âmbito da educação, só o facto de irem decorrer eleições e uma mudança de governo (ainda que possivelmente chefiado pelos mesmos partidos políticos), o que sempre implica um certo transtorno burocrático-administrativo, é, por si só, potencialmente gerador de confusões. Isto ainda é piorado pelo facto de, de uma maneira geral, o ensino estar mais abaixo na lista de prioridades da maioria dos partidos do que outros aspectos sócio-económicos, de maior valor sócio-político (e, não me posso impedir de o acrescentar, demagógico), o que implica sempre que quaisquer problemas que surjam serão tratados com um pouco menos de urgência.

   O problema é que tudo isto não invalida que o sistema de ensino continue, com os mesmos problemas, com as mesmas maldades, incontestado e incontestável. E, infelizmente, não serão entradas como esta que contribuirão para o modificar. Peço, uma vez mais, desculpa a todos os meus leitores (quem quer que eles sejam, e onde quer que eles estejam!) por esta falta de ideias de que ultimamente tenho vindo a padecer, mas… enfim, não sei o que me deu, não sei o que me tem dado, mas escapam-se-me as palavras, quebra-se-me o fio do raciocínio, e todas as ideias me desertam do pensamento. Enfim. Se algum leitor tiver a vontade (e a gentileza) de tecer qualquer tipo de comentário relativo a esta minha curta e medíocre entrada, tem, como sempre, o espaço de comentários à sua disposição.

   Da minha parte, resta-me apenas desejar um bom ano lectivo a todos quantos intervenham, directa ou indirectamente, no ensino, sejam eles docentes, discentes ou qualquer outro tipo de intervenientes.

   P.S.: Faz hoje exactamente um ano que foi publicada a primeira entrada deste blog! Os meus maiores agradecimentos a todos os leitores que o fizeram chegar às mais de quatro mil visualizações que agora tem…

6 comentários:

  1. Já que me conferiu espaço para expor as minhas impressões relativamente à sua mais recente publicação, permita-me que siga fielmente a linha de raciocínio que serviu de suporte à mesma e comentar, salientar, criticar ou simplesmente elogiar determinados aspetos.
    Refere-se primeiramente à trágica situação que vitimou uma rapariga de excelência no Egito (se antes o tinha, então agora é que não tenho qualquer pejo em dilacerar o nome dessa nação respeitando o Acordo Ortográfico, provocando-lhe a queda de um “p”), uma rapariga que tinha todo um áureo e promissor futuro na sua fronte, que as suas faculdades louváveis o permitiam trilhar com toda a firmeza e segurança de espírito. Porém, esse desenrolar natural da vida académica foi retalhado e sustido por um abominável ato das forças muçulmanas que infestam atualmente o Egito. As classificações foram, sem sombra de dúvidas nem espaço para reflexões, rudemente boicotadas pelo governo egípcio, meramente porque a rapariga comungava de outra religião (cuja superioridade não pretendo aqui realçar, apesar da minha incontornável vontade). A situação que a rapariga está a vivenciar deverá servir de estímulo a todos os seres humanos para que não se deixem soçobrar passivamente por corrupção, quer seja dissimulada, ténue ou subtil, quer seja evidente e declarada coação. A situação que o autor nos dá a conhecer é um exemplo da combinação moderada de ambos os extremos, apesar de não ser, contrariamente ao que seria expectável, menos plangente por esse motivo. Bem se vê, sulcado naquele semblante tisnado, uma amargura inexprimível, uma enorme ânsia por justiça delineada no seu sobrolho permanentemente franzido, contudo uma força crente na sua fronte iluminada. Ela crê num Deus misericordioso mas justiceiro, num Deus que perdoa os que se imergem em remorso, mas escarmenta inexoravelmente os devassos. E é nessa crença que ela ainda se ampara, que lhe permite reunir arrojo para difundir a sua situação por todo o mundo e para que este lhe ouça e fique sensibilizado para a abrangência da corrupção (que até ao ensino chega!) e os efeitos nefastos e perniciosos que pode causar (devido a ela, a porta do futuro, esplendorosamente escancarada pelas suas faculdades e a proficiência e excelência que daí advêm, cerrou-se brutalmente; para que a rapariga consiga alcançar a porta e restituir-lhe a posição devida, necessita de ultrapassar os excruciantes obstáculos que se lhes interpõem: todo o Governo árabe do Egito, o Ministério da Educação em peso, a corrupção detestável e ainda os redondos zeros com que se deparou na pauta das classificações). Desejo, para isso, que a comunicação social, ávida de escândalos e fiel difusora de situações escabrosas, se una e desperte no mundo a revolta e a indignação pela afronta que é esmorecer numa criança o desejo de um futuro auspicioso. A intenção dos media podia não ser a melhor, mas, no seu afã de colocar a história de Miriam na primeira página do jornal ou em destaque no telejornal, tiveram um efeito muito benéfico, pois o mundo agora está consciencializado e, Deus queira que sim, pelejará por justiça.
    (continua)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Antes de mais, tenho de lhe agradecer pelo tempo que tomou a escrever um comentário tão longo (na melhor acepção possível que este termo pode ter: felicito-o imensamente por conseguir ter a profusão literária que agora me falta). Creio que reconheço a sua prosa: é já um leitor e um comentador recorrente, e agradeço-lhe ainda mais por isso. De qualquer das formas, tenho de elogiar o apreço pela justiça que o leva a clamar pela alteração da condição da pobre jovem; nesse sentido, tenho de juntar a minha voz à sua, ainda que, se mo permitir, me sinta obrigado a acrescentar um pequeno apelo (já muitas vezes repetido) à mudança do paradigma do ensino, que, dentro do género, poderia, se não eliminar, pelo menos reduzir grandemente situações semelhantes a essa. Mas, independentemente disso, o que se passou com ela não é desejável, não é correcto, não é justo e, por isso, não deveria ter ocorrido.
      (continua)

      Eliminar
  2. Prosseguindo agora para o restante corpo da mensagem: achei o autor desta vez, e como ele próprio salvaguardou no início da mesma, um pouco estéril de ideias sobre as quais debater. Isso revela-se pela evidente dispersão mental em que incorreu: parece querer expor tudo o que lhe perpassa no cérebro, mas acaba por não ser muito profuso em nenhum tema, o que talvez retire alguma legitimidade ao título. Até agora, sempre louvei a sua capacidade para eleger títulos sonantes e simultaneamente em conformidade com o assunto debatido. Este não é, de facto, o caso. Um infortúnio passageiro, anelo eu… Em todo o caso, procurarei ser conciso e incisivo na minha minuciosa análise à publicação. Refere o aparentemente tranquilo início de um novo ano letivo e comunga dos maledicentes boatos que explicam esse mesmo facto recorrendo às relativamente próximas eleições legislativas. Efetivamente, gostaria de salientar aqui a visão do vulgar e simplório cidadão português: se o início do ano é azafamado, atribulado e figuram, mesmo após esse período, determinados erros estruturais a nível de contratações de docentes, deve-se imputar a culpa nos irresponsáveis e incompetentes dirigentes governamentais e, com especial ênfase, nos ainda menos responsáveis Ministros da Educação. É sempre muito simples eleger um alvo de acusações e injúrias! E se estas forem dirigidas contra um membro eminente de um partido de poder, não há nada que não faça a oposição rejubilar. E como se não bastasse, esta ainda incentiva mais a revolta popular, pois sabe que no lugar dos depostos, ficarão eles acomodados por mais quatro anos! Mas, analisando agora a outra alternativa ao começo pouco convencional das aulas: se, pelo contrário, este é pacato, sem percalços passíveis de macular o desempenho do Ministro (que aprendeu de insucessos passados como proceder), é porque ele tem em vista as eleições, quer agradar ao povinho e o seu trabalho não passa de um catavento, buscando as conveniências! Mais uma vez, a oposição não é capaz de reconhecer triunfos dos atuais partidos governativos (não só na educação, como em todas as restantes áreas em que se verificaram melhorias notórias, mas escamoteadas pela sublime oposição)! Tem de denegrir o trabalho dos opositores quer seja bem feito ou não, porque sabem que entre ela e o domínio das cadeiras de São Bento coloca-se de permeio essa avantesma conservadora, que tem de ser demolida destemidamente! Mas porque não somos capazes de reconhecer que o senhor Nuno Crato esteve bem desta vez, que cumpriu exemplarmente com as suas funções, independentemente das intenções que o motivaram a agir assim? Porque não podemos estar munidos de um espírito imparcial e observar os factos com uns olhos ainda mais imparciais? Só assim, podemos expressar juízos dignos desse nome!
    (continua)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Em todo o caso, no que toca ao seu discurso político, sinto-me inclinado a sugerir (com todo o devido respeito) que desvie esses seus impulsos partidários para um qualquer outro local de discussão que não este, visto que não é a política o tema deste blog. Admito que, com aquela minha entrada anterior sobre os programas eleitorais, possa ter dado o primeiro passo nesse sentido, mas não é, nem, tanto quanto o pode dizer um ser humano (que nunca está a salvo da falha e da mudança), nunca vai ser o meu intuito trazer para aqui a política, não mais do que o necessário para falar do ensino.
      Não obstante isto que disse, que espero que não o tenha ofendido de maneira alguma, tenho, ainda, de rejeitar a acusação que me faz relativamente a, se me permite parafraseá-lo, comungar “dos maledicentes boatos” e, adaptando as suas palavras, de partilhar da opinião do “vulgar e simplório cidadão português”. Admito que a minha imparcialidade possa estar comprometida pela minha ânsia de mudança (mas a sua também o pode estar por questões partidárias, deixe-me que lho diga), mas, ainda assim, afigura-se-me que, sobretudo na iminência das eleições, a política (na sua vertente mais demagógica) se imiscui indiscutivelmente na maioria das áreas de governação, incluindo na da educação. Mas, repare, eu nunca disse que o Ministério da Educação estava a fazer um bom ou mau trabalho relativamente ao início do ano lectivo; a única coisa que referi foi que o forte pendor avaliacionista que permeia o actual ministério prejudica ainda mais o sistema de ensino. Aliás, posso concordar consigo quando refere que “o senhor Nuno Crato esteve bem desta vez”, no sentido em que não houve os escândalos de fórmulas erradas e outros erros afins que atormentaram o início do ano lectivo anterior…
      (continua)

      Eliminar
  3. O autor parte seguidamente para os seus vaticínios a nível do cenário com que nos depararemos após as eleições. Já expressei aqui as minhas inclinações políticas (ainda que não explicitamente), e creio que essas nada auspiciosas previsões apenas reforçam o meu desejo de vitória do(s) partido(s) que apoio. O PS, com uma frota parlamentar totalmente renovada, não tem experiência governamental, não sabem em que charco irão soçobrar ou, melhor ainda, que situação irão encontrar. Idealizam um país perfeito, isento de erros, que apenas poderá ser atingido no fim da sua legislatura (em 2019) e com políticas exclusivamente socráticas… perdão, socialistas. Estas já foram manifestadas de 2009 a 2011 como um fiasco absoluto, mas, ainda assim, os portugueses parecem acalentar demasiadas esperanças nas mesmas. Bom, reparei agora que estou a divagar em circunlóquio, esse assunto já transcende aquilo que o autor se propôs a escrever neste blogue. Fala-se de educação, então fixemo-nos na educação. O atual Ministério da Educação, bem como as entidades que o compõem, conhece a atual conjuntura pedagógica mais intensamente que a sua própria estrutura interna (para não recorrer à expressão popular que envolve palmas de mãos, que não creio aplicar-se devidamente a um ser megalómano como um ministério…). Eleger um novo governo seria equivalente a provocar um moroso processo de adaptação que duraria, na melhor das hipóteses (e supondo que a comitiva de Costa estava dotada de faculdades mentais), três meses e meio. Nesse período de plena confusão, quase comparável à que abunda na comunidade científica quando ocorre uma revolução paradigmática, os processos burocráticos naturalmente que se exacerbarão, o que causará desespero em todos os que imiscuírem neles. O atual Governo, porém, se for devidamente reeleito, tornará esse processo de adaptação bem menos moroso, reduzindo-o a algo muito residual (eventuais alterações nos quadros ministeriais, mas nada de muito considerável). O Governo esteve quatro anos a batalhar pela melhoria das contas públicas, é natural que esteja a par de todas as pastas que compõem um país. Resumindo: as complicações burocráticas apenas se notam quando há uma rutura considerável da cor política que comanda o país, sendo, por essa razão, forçado a discordar do autor.
    No sexto parágrafo, volta a minar o sistema de ensino, mas não o podemos censurar, dado que conhecemos o auspicioso destino que lhe pretende incutir, através de uma rutura total com o anterior (por enquanto, ainda é atual). Abster-me-ei de comentar, dado que não foi esse o intento do seu mais recente post, compreendo que tenha sido um desabafo, derivado do facto de manter com aguda pertinácia a sua resolução de alterar os regimes pedagógicos que vamos assumindo na nossa sociedade. Por esse motivo, não me tardarei nesse tópico.
    Por fim, e sem me evadir sem uma última consideração, pretendo felicitar o blog, não só pelo 1º ano volvido (sobrevivendo à censura informática!) mas também pelo número de visualizações que tanto consola o autor. A ele, pretendo agradecer-lhe por expor e não reservar para si próprio as ideias que se vão congeminando na úbere cabeça, brindando-nos com essas publicações de cariz erudito (e por vezes metafísico), dignas de serem afixadas “sobre a cabeça”, como dizia o mestre Padre António Vieira. Um enorme bem-haja e a manifestação do desejo de que muitas mais publicações estejam já a ser planeadas!
    Cordiais cumprimentos, com a retribuição de uma feliz integração nas inexoráveis rotinas escolares e um próspero desempenho!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Sinto-me forçado a reiterar o que afirmei na minha entrada: seja qual for o partido (ou a coligação) que forme o próximo governo, só o facto de haver uma alteração, ainda que mínima, das figuras do poder, pode gerar uma confusão suficientemente extensa para perturbar este ano lectivo. Receio que não conseguiremos chegar a acordo neste assunto, e espero que não fique melindrado por isso. Mas, de qualquer das formas, não vale a pena perdermo-nos em divagações desta natureza; o futuro não é certo (ou, se o é, o entendimento humano não o consegue atingir) e, por isso, estaremos sempre a errar ao fazer qualquer tipo de previsões. Assim, não vale a pena partirmos para esta discussão…
      De resto, tenho de agradecer, se me permite a circularidade, pelos agradecimentos, cumprimentos e elogios que me transmite, além de retribuir os desejos de uma boa reintegração neste ignóbil sistema de ensino que temos hoje em dia, e de que o ano lectivo que se avizinha decorra da maneira mais positiva possível.

      Com os melhores cumprimentos e a esperança de que continue um leitor,
      NSF

      Eliminar

Este espaço está à disposição de todos os leitores, seja para elogiar, seja para criticar, seja para, pura e simplesmente, comentar. O autor reserva para si o direito de responder conforme tenha disponibilidade.