10 de outubro de 2015

Uma Aproximação das Aulas à Distância

   Sei que hoje adoptei um tema relativamente insignificante e muito pouco mediático, mas, ainda assim, não deixa de ser uma adição mais ou menos relevante àquilo que é a minha ideia principal. Como o título revela logo, trata-se, exactamente, da prática que podemos designar “aulas à distância”.

   É do meu conhecimento (e creio que também do da maioria das pessoas) que é usual, sobretudo nos países do Norte da Europa, haver períodos de tempo em que os alunos frequentam as aulas por meios electrónicos, visto não se poderem deslocar fisicamente a um estabelecimento de ensino, por motivos predominantemente climáticos (leia-se grandes nevões que deixam as suas casas praticamente inacessíveis). No caso particular do nosso país, não se verificando, de uma maneira geral, fenómenos meteorológicos tão extremos (ainda que, em terras mais a Norte, não deixe de haver nevões), e sendo o grau de desenvolvimento (bastante) menor, o ensino ainda se encontra muito dependente do espaço físico correspondente à escola, com algumas excepções (apresenta-se-me o caso das crianças e dos jovens ligados às artes circenses, que, se não estou equivocado, frequentam as aulas na escola mais próxima, mudando de escola à medida que o circo muda de sítio).

   Mas, convenhamos, isso não é tão mau assim. Em última análise, surgem sempre algumas dúvidas que só são bem esclarecidas (se me permitem o galicismo) tête-à-tête, e também só se consegue apoiar bem um aluno na realização de exercícios se se estiver em contacto com ele durante essa realização; assim, seria desejável que o aluno pudesse comunicar directamente, em tempo real, com o professor, sem se interpor a eventual barreira da escrita à colocação de dúvidas e respectivo esclarecimento. Só que, claro, já há hoje em dia serviços de videochamada/videoconferência gratuitos e bastante eficazes, o que significa que isto não pode constituir uma razão para descartarmos as aulas à distância.

   Mas, de qualquer das formas, como, no actual sistema de ensino, a liberdade de escolha dos alunos é mínima (estando limitada às poucas disciplinas de opção existentes, e mesmo estas estão condicionadas pela oferta formativa da escola), será lícito admitir que todos os alunos, de uma maneira geral, têm um bom acesso ao conhecimento que se lhes pretende transmitir. À excepção, claro, dos alunos cuja escola foi encerrada e/ou que transitaram para um nível de ensino superior àquele a que corresponde a escola mais próxima, que têm, portanto, de sair cedíssimo de casa e chegar tardíssimo a casa, por ser esse o horário do transporte escolar a que têm acesso. Mas, enfim… não convém dar muita relevância a isto, porque são peanuts, como parece que agora se costuma dizer. Afinal, somos um país desenvolvido… ou pretendemos sê-lo… e não há coisas dessas num país desenvolvido… Enfim. Tudo isto (e toda esta ironia) para dizer que, casos excepcionais à parte, não parece haver, no âmbito do actual sistema de ensino, grande necessidade de aulas à distância.

   Então, se assim é, para que é que estou para aqui a escrever isto tudo? Bem, permitam-me explicar as minhas razões: nessa minha frase anterior, o elemento central não é, a meu ver, a parte de “não parece haver (…) grande necessidade de aulas à distância”, mas sim a de “no âmbito do actual sistema de ensino”. E, por esta altura, os meus leitores já sabem o que penso acerca do actual sistema de ensino: funciona mal, está mal organizado, deveria ser reformulado, deveria ser substituído por um novo paradigma, nomeadamente aquele a que gosto de chamar Mini-Ciclos de Leccionamento (ou “minha ideia principal”, conforme a minha inspiração). Sei que já o disse antes, mas não me canso de o repetir, pois é a minha mais profunda crença que esta mudança seria indiscutivelmente para melhor. Por isso, acho que não vale muito a pena avaliarmos as coisas à luz do que o actual sistema de ensino as obriga a ser, mas sim de como seriam quando (abster-me-ei de dizer “se”) se der o caso de os Mini-Ciclos de Leccionamento terem sido implementados.

   Então, tendo em conta a maior liberdade que este novo paradigma conferiria aos alunos, poder-se-ia dizer que surge o novo problema (ou seria exacerbado o problema que apenas se manifesta no caso de algumas disciplinas de opção) de o aluno desejar frequentar um dado módulo que, nesse momento, não está a ser leccionado em nenhuma escola nas imediações; é certo que esta nova organização do sistema de ensino lhe permitiria aguardar, sem grande prejuízo para a aquisição de outros conhecimentos (à parte eventuais conhecimentos dependentes do módulo não leccionado), até que se voltasse a leccionar o módulo desejado, mas poderia dar-se o caso de haver módulos que apenas seriam pretendidos por um número muito reduzido de alunos, mesmo a nível nacional, fosse pela sua especificidade, fosse pela sua dificuldade, fosse, a bem dizer, pela sua insignificância (é certo que todo o conhecimento é importante, mas não podemos negar que há algum conhecimento que tem mesmo muito pouca relevância…). Em qualquer dos casos, sei que incorporei na minha ideia a ressalva de que todos os módulos fossem leccionados num raio de 25km e num período máximo de dois meses, mas esses números, além de grandemente artificiais e maioritariamente exemplificativos, poderiam não corresponder, sobretudo num caso em que haja, por hipótese, menos de 20 alunos interessados a nível nacional, a uma boa gestão de recursos.

   Nesse sentido, afigura-se-me que a melhor opção seria mesmo recorrer-se a algum tipo de aula à distância, pondo um professor localizado onde quer que fosse em contacto com os alunos dos quatro cantos do país, de modo a que lhes possa transmitir os conhecimentos em causa, esclarecer as dúvidas, ajudar na resolução dos exercícios… E tudo isto ocorreria, como é óbvio, através de algum tipo de videochamada. Assim, seria possível a todos os alunos adquirir qualquer conhecimento que fosse, independentemente dos desejos dos restantes alunos da região circundante, e sem obrigar propriamente a um grande desperdício de recursos. Além disso, tendo em conta que, neste novo sistema de ensino, não haveria testes, nem exames, nem momentos formais de avaliação desse género, a situação dos alunos distantes da escola (ainda que apenas possa ser verdadeiramente resolvida já no plano sócio-político-económico, que foge, portanto, ao âmbito deste blog e da acção de qualquer sistema de ensino) seria bastante menos grave, visto que lhes bastaria possuírem equipamento informático e acesso à Internet para, através das aulas à distância, adquirirem quaisquer conhecimentos que pudessem desejar.

   Não posso, no entanto, negar que um sistema de ensino como o que proponho implicaria a resolução correcta de exercícios, de modo a aferir se o conhecimento que se pretende aprender foi, de facto, adquirido, e que essa realização, fora de um estabelecimento de ensino, pode levar a fraudes, mas, por um lado, sendo os exercícios vocacionados para o raciocínio (pois é preponderantemente este que se transmite), torna-se difícil cabular, e, por outro lado, mesmo no actual sistema de ensino (e até mesmo no interior dos estabelecimentos de ensino!) há fraudes, pelo que não me parece lícito que essa eventualidade, por si só, constitua um verdadeiro impedimento da adopção dos Mini-Ciclos de Leccionamento e das aulas à distância.

   Já agora, gostaria, igualmente, de fazer referência ao facto de, sendo os conhecimentos adquiridos mais ou menos separadamente, situações como as dos artistas circenses, que frequentam (no actual sistema) várias escolas ao longo do ano, ficando sujeitos a múltiplas perspectivas pedagógicas que conduzem, apesar disso, a uma avaliação global, tendo de repetir e/ou saltar matéria à medida que passam de uma escola para outra, deixariam de existir. E, de qualquer das formas, poderiam sempre recorrer às aulas à distância, de modo a frequentarem todos os módulos que quisessem, independentemente dos que estariam disponíveis a nível local.

   Assim, e depois desta argumentação toda, sinto que a minha convicção (que já era forte) em como os Mini-Ciclos de Leccionamento poderiam eliminar uma boa parte dos erros e incongruências do actual sistema de ensino ficou agora fortalecida pela conclusão de que permitirão, se a eles se juntarem as aulas à distância, melhorar outros aspectos que, embora não decorrendo directamente do sistema de ensino, ainda têm alguma influência, mais que não seja na sua eficácia. Uma outra possibilidade que me surgiu agora mesmo, e que achei por bem registar aqui, foi a de, num futuro mais ou menos longínquo, uma grande maioria das aulas ocorrer à distância, o que, se considerarmos (conforme a minha fundamentação metafísica do propósito da escola) que o propósito do sistema de ensino é transmitir conhecimentos racionais e não sócio-emocionais (sendo que estes, a meu ver, obrigarão muito mais a um contacto directo, presencial, e, por isso, não poderão ser transmitidos à distância), tem pouco ou nenhum impacto na eficácia da transmissão dos conhecimentos e pode mesmo afectar muito positivamente a sua eficiência. Mas isto, claro, não é, nem deve ser, um aspecto integrante dos Mini-Ciclos de Leccionamento ou da minha perspectiva das aulas à distância; é apenas, e só, um curto exercício de futurologia, que, como todos os outros, tem bastantes hipóteses de estar errado, e que, talvez, até nem se enquadre propriamente no âmbito desta entrada. Em todo o caso, está dito, ou melhor, está escrito, seja o que for que desse facto possa advir.

   Terminarei, como sempre, com a ressalva de que os leitores têm à sua disposição o espaço de comentários. Um bom fim-de-semana a todos.

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