26 de agosto de 2015

Da Fundamentação Metafísica do Propósito da Escola

   Peço desculpa aos meus leitores pela demora, mas fui acometido de um dos piores acessos de falta de inspiração que alguma vez experienciei. Todas as ideias me pareciam inconsequentes e insuficientes, todas as minhas palavras pareciam ocas e, por isso, não consegui propriamente encontrar nenhum bom tema para escrever, mas creio ser o meu dever fazer uma nova entrada. Por isso, e depois de muito esforço mental, decidi adoptar, à falta de melhor, este tema um pouco críptico, que não podia estar mais longe de mediático. Advirto já que a “fundamentação metafísica” se trata mais de uma expressão vagamente irónica do que propriamente de uma indicação do teor das reflexões filosóficas que se estabelecerão neste texto; não é este o lugar apropriado para reflexões dessa natureza.

   Começarei por colocar uma pergunta retórica: para que serve a escola? Numa abordagem mais paranóica, poder-se-ia dizer que constitui um importante órgão de controlo e condicionamento da população, submetendo-a aos interesses da sociedade, mas esta perspectiva é demasiado exagerada (ainda que não esteja completamente errada…) para que se a possa sustentar com sucesso. Então, qual é mesmo o propósito de um sistema de ensino? Que falta é que faz? Que necessidade é que há de haver uma coisa assim?

   Muitos diriam que o seu propósito seria contribuir para a completa formação do indivíduo, seja a nível intelectual, seja a nível social, seja a nível moral, mas sou forçado a discordar desta perspectiva principalmente por três motivos:

      1) Para que o sistema de ensino pudesse cumprir totalmente esse propósito, o indivíduo teria de estar, até terminada a sua formação, permanentemente nele incluído (para que as influências externas perturbem o menos possível), o que, além de ser impraticável, não é psicologicamente saudável (e incorre no motivo seguinte).

      2) A possibilidade de haver um aproveitamento dessa faceta profundamente formativa do actual sistema de ensino para condicionar (ainda mais…) os indivíduos, conforme melhor possa aprouver aos lobbies e aos poderes instituídos, além, claro, de abrir um caminho bastante fácil para uma situação huxleyana de subjugação do indivíduo à mecanização da sociedade através do condicionamento providenciado pela educação.

      3) A existência de uma pletora de competências (nos domínios sociais e morais, leia-se) que, pura e simplesmente, são quase impossíveis de ser ensinadas, tendo, em vez disso, de ser desenvolvidas pelo indivíduo.

   Ora, tendo tudo isto em conta, não posso, de modo algum, partilhar das opiniões que recentemente se têm vindo a popularizar acerca de avaliações formativas, valorizações de competências sócio-afectivas e outras teorias afins (sem ofensa para aqueles que as apoiam, e sem ofensa também para as teorias em si). Antes que me acusem de desvalorizar essa componente através destas minhas palavras, permitam-me que refira que, sem sombra de dúvida ou de hesitação, admito que o indivíduo só está verdadeiramente completo se possuir (em maior ou menor escala) essas componentes. Apenas defendo que a transmissão dessas competências não deve ser um dos principais propósitos do sistema de ensino.

   Então, qual será esse propósito? Permitam-me que responda laconicamente: transmitir conhecimento. Sim, claro, poder-se-ia argumentar que, em última análise, tudo é conhecimento, pelo que essas competências que refiro anteriormente também o são, e eu seria, inevitavelmente, forçado a concordar; no entanto, afigura-se-me que ainda há uma grande diferença entre saber somar e saber amar (no sentido mais poético do termo). Isto, claro, constitui um dos contrastes mais extremos, mas creio que é suficiente para ilustrar a questão: poder-se-ia dizer (se me permitem um dedinho de Filosofia) que, de uma maneira geral, há conhecimentos que surgem maioritariamente por uma via que podemos designar racional (sendo, por isso, de cariz mais exequível, além de mais facilmente transmissíveis, e possuindo maior objectividade e impessoalidade) e outros que provém de uma outra via mais psico-emocional e sensorial (embora tendo um impacto no dia-a-dia igual ou superior ao dos outros, acabam por possuir uma aplicabilidade mais pessoal e subjectiva, sendo, por isso, mais difíceis de transmitir).

   Tendo isto em conta, poder-se-á, então, reformular a resposta que dei anteriormente: o sistema de ensino deve tentar transmitir única e exclusivamente os conhecimentos racionais, sejam os do âmbito mais prático (actividades laboratoriais, culinária, mecânica…), sejam os do âmbito mais teórico (Matemática, outras ciências, línguas…).

   Mas não se pense, devido a estas palavras, que sobrevalorizo o racional e desvalorizo o psico-emocional; apenas considero que se deve separar bem as duas áreas, sem que estejam a cargo da mesma organização/entidade. Aliás, mesmo sem uma ênfase acrescida do actual sistema de ensino na área mais psico-emocional e sensorial, já considero que este se intromete demasiado nessas competências, ocupando, em consequência disso (e também das muitas outras falhas que se lhe podem apontar), demasiado tempo na vida dos alunos. Não, não faço nenhum apelo à borga ou à vida boémia que muitos adoptam nos seus tempos livres, apenas acho (e creio que, neste aspecto, já alguns psicólogos tentaram alertar para isto) que o sistema de ensino deveria providenciar mais oportunidades para que esse desenvolvimento de conhecimentos psico-emocionais e sensoriais pudesse ocorrer naturalmente, sem que houvesse trabalhos de grupo obrigatórios, sem que houvesse trabalhos de casa com o intuito de ensinar o que é um dever, sem coisas semelhantes que, muitas vezes, até têm efeitos adversos sobre as competências que visam desenvolver. Mas, da minha perspectiva, essas oportunidades não deveriam surgir no sistema de ensino em si, mas sim no tempo livre que este deixaria, mais do que o que deixa agora (e não falo de intervalos).

   É claro que não se pode deixar o desenvolvimento dessas competências exclusivamente a cargo do indivíduo, mais a mais porque muitas delas surgem e se definem em função do outro, mas, por isso, e para isso, serviria a unidade familiar (quando possível) ou uma qualquer outra entidade especializada na transmissão desses conhecimentos, que, mesmo podendo ficar situada num espaço partilhado com o sistema de ensino dos conhecimentos racionais, diferiria deste não só pelo âmbito, mas também pela abordagem, mais vocacionada, como seria de esperar, para que seja o aluno, por si, a desenvolver essas competências. E, a meu ver, este tipo de conhecimentos nunca deveria, de modo algum, ser utilizado para propósitos avaliativos ou selectivos, não possuindo, por isso, nenhum tipo de obrigatoriedade (não mais do que a normal convivência em sociedade exige), pois, conforme refiro, estes conhecimentos não podem, ou não devem, ser forçados, antes surgindo naturalmente, ao ritmo de cada um (mas, claro, podendo ser alvo de estímulo por parte de outrem), mais a mais porque a sua não aquisição não constitui, na maioria dos casos, um obstáculo inultrapassável ao normal desempenho das tarefas (o caso mais flagrante será, creio eu, o das aptidões sociais: a timidez, embora, em muitos casos, seja bastante prejudicial, não constitui, de uma maneira geral, um problema fatal para o afligido…) e porque a subjectividade inerente a este tipo de conhecimentos implica exactamente que não podem ser subjugados a um critério externo, imparcial, avaliativo.

   É, pois, aqui que divirjo grandemente das opiniões que acima referi: em vez de se englobar a transmissão dos conhecimentos psico-emocionais e sensoriais no sistema de ensino, como se tem feito, e se está a querer fazer ainda mais, face ao progressivo enfraquecimento do papel da família na formação do indivíduo (por motivos sócio-económicos diversos), proponho que, a estabelecer-se qualquer sistema de transmissão destes conhecimentos, este esteja desligado do sistema de transmissão dos conhecimentos racionais (que, de qualquer das formas, também não deve abarcar uma fatia tão alargada do dia-a-dia dos alunos e das famílias, cuja vida, de uma forma ou de outra, acaba por, hoje em dia, ser a modos que construída em torno dos condicionalismos que o sistema de ensino impõe) e, sobretudo, o mais independente possível dos interesses dos lobbies, sob pena de, se me permitem a metáfora, sermos nós próprios a entregar os fios que nos movem aos marionetistas.

   Bom, creio que concluí esta relativamente longa dissertação relativa às funções do sistema de ensino. Temo ter sido demasiado críptico e confuso na minha abordagem, ter-me imiscuído demasiado nas águas turvas da Filosofia e da Psicologia, mas são os condicionalismos que a falta de temas me impõe. As minhas desculpas a todos e quaisquer leitores que possam ficar melindrados pelas minhas palavras, mas têm a minha garantia de que a minha intenção não era, de modo algum, ofender ou magoar, apenas expressar uma ideia. Tenho, igualmente, de apresentar as minhas desculpas por quaisquer eventuais falhas e incongruências que aqui se possam eventualmente encontrar. Resta-me relembrar o facto de o espaço de comentários ficar à vossa disposição, seja para corrigir, seja para criticar, seja para (se assim o entenderem) elogiar…

8 comentários:

  1. Confesso que não fiquei nada agradado com a mensagem que o autor pretende transmitir a respeito das funcionalidades e dos propósitos da educação. Transcreverei do dicionário da Porto Editora a terceira aceção, que diz respeito a esta mesma temática: "transmissão de princípios relacionados com comportamentos e atitudes correspondentes aos usos socialmente tidos como corretos; educação". Enfim, é universalmente reconhecido que a função do professor não é debitar matéria e tampouco a função do aluno é tragá-la. Existem duas vertentes muito enraizadas no nosso sistema de ensino, o conhecimento e a moral, e todo o sistema que surgir para suprir o já obsoleto terá de seguir esse mesmo molde. A educação visa a formação integral do sujeito, munindo-o de ferramentas que o permitirão sobreviver (e mais que tudo, viver) em sociedade, tendo, naturalmente, que se subjugar às convenções e às influências (alegadamente perniciosas) dos poderosos, que o autor não cessa de bradar. Todo o aluno se terá inevitavelmente de imiscuir na sociedade, como animal gregário que todo o humano é, sob risco de, se se rebelar contra as normas instituídas nacional ou universalmente, ir terminar à cadeia (se demonstrar publicamente a sua irreprimível rebeldia) ou ser escorraçado da sociedade e passar os dias como um pária e um ermitão (se resolver não penetrar na sociedade, não manifestando qualquer desagrado, característica dos misantropos). Concordo quanto se diz que cabe aos pais incutir aos filhos a norma social pela qual se devem reger, mas acho demais declarar que aos professores deve caber exclusivamente o ensino racional e aos pais, a moral e a vertente psicológica. O cérebro humano é um engenho de funcionamento indecifrável, já se provou cabalmente que a emoção está estritamente relacionada com a razão (e creio que não ferirá ninguém se eu adicionar a moral para formar o triângulo da integração social). Por esse motivo, não podemos fragmentar esse triângulo e distribuir as pontas por várias entidades isoladas, pois corremos o risco de que haja o desenvolvimento preferencial de umas em detrimento de outras, o que deforma a imagem com que o jovem tem de comparecer à sociedade. Por esse motivo, tenho de afirmar publicamente que o atual sistema de ensino incorpora as três vertentes indicadas. Os professores dão-nos a conhecer as três pontas do triângulo, os três núcleos em que se baseia uma proveitosa integração social. E provarei como isto se verifica:
    1) Razão - a escola favorece-a pretendendo, com os conteúdos curriculares, que o aluno seja capaz de pensar (munido da imaginação e da crítica), raciocinar (munido da lógica) e argumentar (munido da retórica). É a ponta mais notória do triângulo que constitui o atual sistema de ensino, o que levou possivelmente o autor a julgar que se podia facilmente descartar das outras duas sem lesar a formação do jovem (já que outras entidades estariam encarregues do desenvolvimento da moral e da emoção no seu espírito);
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    1. Caro Anónimo Latinista,

      Entendo perfeitamente a sua opinião e respeito-a completamente, mas não posso deixar de discordar dela. Sim, admito que a expressão “educação” também tenha o significado (diria que em sentido lato) de “formação do indivíduo em todas as suas vertentes”, pelo que, por essa perspectiva, para se ter uma verdadeira educação, não podemos descurar os aspectos morais e emocionais do indivíduo, além, claro, dos racionais (para adoptar a sua divisão), mas aquilo com que não posso concordar é que se misture estes aspectos com a transmissão do conhecimento, que considero ser o objectivo do sistema de ensino. Sim, concordo perfeitamente que não é desejável que ocorra a transmissão pura (e crua) de conhecimentos, até porque, sem que se estabeleça algum tipo de empatia entre aluno e professor, essa transmissão não é praticável, e que é impossível um ser humano desdobrar-se nos diferentes aspectos que o constituem, o que implica que, em tudo quanto se faça, recorramos quer à nossa parte racional, quer à nossa parte emocional, quer à nossa parte moral. Mas aquilo com que não concordo, e que não posso aceitar, é que se considere que o sistema de ensino (repito, de ensino: não de educação) tem como propósito desenvolver todas essas vertentes. Aliás, não creio que se possa dizer que a forma de as desenvolver segue sempre o mesmo método; enquanto, para se exercitar a razão, basta um modelo relativamente semelhante às aulas que actualmente se tem (embora, da minha perspectiva, com uma ou outra alteração, conforme indica aquela que considero ser a minha ideia principal), parece-me errado considerar que esse mesmo modelo se pode aplicar ao desenvolvimento emocional (quanto à moral, consigo admitir que, parcialmente, se adequa).
      Ora, nas provas que dá relativamente ao desenvolvimento das três vertentes, permita-me que lhe diga o seguinte:

      1) Em relação à razão, como refere, é o aspecto mais óbvio que o sistema de ensino desenvolve, e isso não contesto. Ainda que muita coisa, no sistema de ensino actual, não esteja propriamente tão vocacionada para o raciocínio quanto seria desejável…
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  2. 2) Emoção - é desenvolvida pelos enleios afetivos entre docentes e alunos e inter-alunos. Ficando o aluno desde que entra para uma instituição escolar enquadrado em turmas, é forçado, por mais introvertido que seja, a ser expansivo com os colegas, com os quais vai contactando ao longo do dia. A introversão e a timidez são facilmente ultrapassadas por esse constante acompanhamento das crianças, que, por serem levianas e pouco ponderadas, não ficam muito apreensivos no momento de formar novas amizades (a timidez só se revela em peso quando a criança vai tendo consciência da sua própria existência). Esse primeiro obstáculo (e digo "obstáculo" porque a formação de amizades nem sempre é algo pouco trabalhoso), uma vez ultrapassado, permitirá à criança estar mais socialmente ativa (e o resultado é a elevadíssima taxa de integração dos adolescentes na sociedade). Ultimamente, e graças a investigações de foro científico e sociológico, a emoção tem vindo a suplantar a aptidão intelectual no comportamento humano (e a prova é que o QI tem perdido a sua inicial credibilidade e fiabilidade, sendo gradualmente substituído pelo QE - quociente emocional). Para terminar este ponto, devo ainda acrescentar que, passando-o para as mãos dos pais, talvez não sortisse efeitos tão satisfatórios (na escola, os alunos sentem-se mais livres, fora da jurisdição dos pais, o que lhes confere uma maior autonomia e independência);
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    1. 2) Em relação à emoção, permita-me que lhe diga que o contacto que ocorre (como destaca, e com razão) em meio escolar não me parece suficiente para desenvolver totalmente esta vertente. É inegável que a componente emocional não se limita ao contacto com o outro, também devemos incluir aí toda uma profusão de experiências sensoriais que, pura e simplesmente, não podem ocorrer (ou muito dificilmente ocorrem) nos confins de uma sala de aula, e que, por isso, terão de tomar lugar num qualquer outro espaço, no âmbito de uma qualquer outra actividade que frequentar o sistema de ensino. Nesse sentido, não deve ser este o responsável por as transmitir.
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  3. 3) Moral - chegamos ao ponto que julgo mais descurado pelo sistema de ensino e que os pais muitas vezes também não cumprem com a sua função. Reconheço os esforços do Ministério para administrar as normas sociais sob a forma de aulas de Formação Cívica e Educação Moral e Religiosa (básico) ou mesmo havendo a reserva de 20% a 25% da classificação final disciplinar para a componente socioafetiva (secundário), apesar de não serem, de longe, suficientes para o desenvolvimento deste aspeto. Prendamo-nos com a Educação Moral e Religiosa que, sendo atualmente facultativa e não contando para efeitos de reprovação, é fortemente rejeitada pelos jovens. A religião tem, entre outras finalidades, a promulgação de um código moral a que os habitantes de determinado país que a assuma como oficial são sujeitados. Eventuais contestações a esses preceitos (promotores da vida humana, da paz, da harmonia, do benefício geral, da sensatez, entre outras inefáveis propriedades) levam à punição através de sanções, o que serve idealmente para o reconhecimento do erro e para o eventual perdão. As crianças têm, desde cedo, de se ambientar à ideia de que devem agir o melhor possível em sociedade, sempre em prol da comunidade e sempre respeitando as normas instituídas, bem como devem compreender que a penalização é legítima em caso de infração (o que, à partida, deve amedrontá-las e afastá-las de constrangedores delitos). E a vertente da moral, caro autor, a que entidade cabe? Se já revelou a sua repulsa pela funcionalidade ética da escola, a quem cabe a árdua tarefa de dar a conhecer à criança o limite entre o admissível e o condenatório? Aos pais? Assumem uma importante tarefa no crescimento intelectual da criança, mas não creio que se possa deixar sobre as suas mãos tal encargo. Não digo a maioria, mas alguns pais constituem perniciosas influências para os filhos, sendo que, uma vez deixados os seus caráteres morais nas mãos de ferreiros pervertidos, da forja sairiam almas perdidas e delinquentes e não filantropos e amantes da Democracia. A escola acaba por "completar" o ensinamento que os filhos recebem (ou era suposto receber) dos pais, aperfeiçoando apenas os pormenores não tão bem talhados no caráter moral (caso a função dos progenitores seja bem executada, levando uma vida regrada e respeitosa, fielmente seguida pelos credos que sustentam a família) ou então reverter os efeitos nocivos de uma eventual família devassa, assumindo o professor as tarefas que deviam ter sido partilhadas com os pais da criança em causa. Decerto que o autor não está alheio às realidades: por vezes, os professores a segunda família dos alunos, que, devido às ligações de consanguinidade, tem de chamar "primeira família" à que o escorraçou ou que negligenciou a educação moral. Muitas vezes, os alunos procuram na escola aquilo que não encontram nos pais (e que era suposto encontrar). Suprimir o ensino moral (a par das ligações afetivas) seria o mesmo que tornar os alunos intelectualmente órfãos de pais uns autênticos "cadáveres adiados", por não lhes serem fornecidos mecanismos para se poderem integrar na sociedade.
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    1. 3) Em relação à moralidade, poder-se-ia aqui estabelecer um grande debate filosófico nesse âmbito, mas abster-me-ei disso, pois não é este o local apropriado. Em todo o caso, e independentemente do que se possa dizer em relação à moralidade, não pode (ou não deve) ser o sistema de ensino a transmitir a moralidade, até porque uma moralidade imposta não é verdadeiramente uma moralidade em que se acredita, é apenas uma moralidade que se segue até se poder transgredir sem grandes consequências, o que contraria exactamente o que deveria ser a moralidade. Claro que o sistema de ensino pode (e deve) tentar auxiliar aqueles que, por motivos diversos, têm tendência a enveredar por caminhos menos ideais e a colmatar as falhas que possam ter no seu carácter, mas apenas no sentido em que essa tarefa cabe igualmente a toda a sociedade, não porque deva ser exclusivamente imposta ao sistema de ensino.
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  4. A meu ver, um adolescente só se pode incluir na sociedade apenas se tiver, em maior ou menor grau, atributos racionais, emocionais e morais. A combinação dos três é que permite a aceitação numa sociedade e a escola, o local de preparação dos jovens para serem os adultos de amanhã, nunca pode valorizar um atributo em detrimento dos outros, correndo nós o risco de aumentar a frequência de adolescentes recém-chegados à sociedade mais versados para a intelectualidade, menos sensíveis e mais devassos, principalmente porque o esforço da família e outras entidades não seria suficiente para evitar a natural tendência para a devassidão ou a insensibilidade. A escola não pode atuar independentemente das outras entidades, a família não pode atuar independentemente das outras entidades! Os três atributos que preconizo devem estar repartidos por todas as entidades de modo que todas, interligadas, possam tornar um jovem íntegro, tanto a nível intelectual, emocional e ético. A escola é a preparação do nosso futuro social, e, como tal, deve ser completa na sua oferta curricular.
    Aqui tem o autor uma bela reflexão (ou uma reflexão bela, conforme preferir), mas não pude mesmo reprimir este breve (ou prolixo...) comentário a essa sua tese, um pouco inflexível e, se posta em prática, potenciadora da compartimentação dos atributos humanos, o que acaba por ser uma ideia devastadora... Perdoe-me a minha intromissão e o eventual dano que as minhas palavras possam causar no seu orgulho e amor-próprio de grande e atarefado empreendedor intelectual, mas "a minha intenção não era, de modo algum, ofender ou magoar, apenas expressar uma ideia"...
    Cordiais cumprimentos.

    Anonymous est
    (finitoque)

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    1. Sou forçado a concordar consigo quando indicia que só desenvolvendo os três aspectos teremos verdadeiramente um cidadão. Nunca o neguei, não o vou negar, apenas considero que se deve ter abordagens diferentes para aspectos diferentes e, nesse sentido, não podemos imputar ao sistema de ensino a responsabilidade de os desenvolver a todos ao mesmo tempo e da mesma forma, misturando uns com os outros e prejudicando a aquisição de todos. Mas, de qualquer das formas, agradeço as reflexões, o tempo e os elogios que me dedicou, e espero que continue a ler e (a comentar) este meu blog. Terminarei com a garantia de que o que me disse não me afectou de modo algum, ao mesmo tempo que lhe estendo as minhas mais cordiais saudações.

      NSF

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