28 de dezembro de 2015

Sobre as Visitas

   Não, não se trata de uma reflexão vagamente anti-social e ressentida sobre as visitas mais ou menos inesperadas e mais ou menos indesejáveis que, quase inevitavelmente, surgem nesta época festiva. Coisa, que, de resto, ficaria assaz deslocada no meio de todas as coisas que digo sobre o ensino neste blog. Mas pronto. Poderia ter-me saltado a mola de vez e ter passado a escrever coisas (ainda mais) sem sentido e sem lógica… Mas não. Decidi hoje falar-vos das visitas de estudo e, mais especificamente, da efectuação das visitas de estudo no âmbito dos Mini-Ciclos de Leccionamento.

   Não posso, de modo algum, negar que as visitas de estudo podem contribuir de uma maneira significativamente positiva para as aprendizagens, ao permitirem que, dentro do género, se vejam postos em prática, em situações concretas e reais (a não ser que a visita de estudo incida sobre uma qualquer situação criada propositadamente para fins didácticos, caso em que se torna, apenas, uma situação concreta), os conhecimentos adquiridos, o que, em muitos e variados casos, contribui para a consolidação desses mesmos conhecimentos (a não ser que se seja um anti-empirista como eu, mas isso é outra história…). Nesse sentido, somos levados a concluir que as visitas de estudo são mais ou menos desejáveis. Só que também não podemos esquecer que há muitos casos em que as visitas de estudo constituem pouco mais do que uma desculpa para a borga, tendo, por vezes, quase nenhum sentido para além desse. E isto, meus meninos, não pode ser.

   Não estou propriamente a publicitar um estilo de vida monástico e espartano, desprovido de toda e qualquer alegria, de toda e qualquer diversão, nem tão pouco estou a incorrer no cliché de pedir borga, mas com calma (o que, por si só, constitui um contra-senso e uma contradição injustificáveis). Apensas não posso deixar de referir a incoerência da atitude da maioria, aproveitando toda e qualquer oportunidade para a folia, mas cedendo, quase imediatamente após esta acabar, aos apelos de “estudem para os testes!”, “façam os trabalhos de casa!”, “não se esqueçam das apresentações orais!”, “tenham cuidado com os exames!” e afins. Ora, não seria mais lógico se, em vez de tentarmos escapar sempre que pudermos ao enorme desconforto que estudar no actual sistema de ensino representa, nos esforçássemos para acabar com esse mesmo sistema de ensino e implementar um outro, em que os momentos de folia não tivessem de ser roubados, mas sim surgissem naturalmente (por estar ausente uma grande parte das tarefas – trabalhos de casa, pesquisas, estudos específicos para testes/exames… – que hoje em dia ocupam tanto tempo)? Bom, podia prosseguir para o apelo do costume relativamente à implementação dos Mini-Ciclos de Leccionamento, mas creio que seria vagamente repetitivo e, por isso, abster-me-ei de o fazer (ainda que, indirectamente, já o tenha feito ao dizer que o poderia fazer…).

   Independentemente deste meu aparte (bastante grande, diga-se de passagem), creio que já todos pudemos ver (como seria óbvio para alguns, um pouco menos, talvez, para mim) que as visitas de estudo, se apropriadamente seleccionadas de modo a estarem relacionadas com a matéria, até que são desejáveis, e isto é uma coisa que, excepcionalmente, o actual sistema de ensino até que tem a possibilidade de não fazer mal: tendo em conta a progressão de todos os alunos através de um programa pré-estabelecido, torna-se relativamente simples organizar, a nível escolar, do agrupamento ou da zona, uma visita de estudo precisamente na altura em que os conhecimentos que com ela se relacionam já foram leccionados (preferencialmente há pouco tempo, para estarem o mais frescos possível). Mas isto, apesar de ser uma vantagem do actual sistema de ensino, não elimina toda a montanha de desvantagens que ele tem. Nesse sentido, já sabem que considero mais desejável que se siga o paradigma dos Mini-Ciclos de Leccionamento, pelo que é no âmbito deste sistema, e dos seus condicionalismos organizacionais, que passarei a avaliar as visitas de estudo. Se não se importarem, claro.

   Bom, progredindo cada aluno de uma forma independente dos outros, torna-se bastante mais difícil conseguir coordenar as coisas de modo a que os conhecimentos dos alunos e as visitas de estudo estejam relacionados. Talvez isto possa ser conseguido se se organizar as visitas de modo a que os alunos só se possam inscrever (naturalmente, através da plataforma electrónica associada aos Mini-Ciclos) caso tenham adquirido os conhecimentos relacionados (numa forma vagamente reminiscente aos requisitos dos módulos, embora, para as visitas de estudo, os requisitos devam ser mais latos; por exemplo, faz sentido que, para uma visita a um qualquer aquário/oceanário/fluviário/et-caetera-ário, se tenha de ter aprendido qualquer coisa de Biologia, ainda que essa coisa, a meu ver, tanto possa ser Ictiologia, Oceanografia, Taxonomia, Ecologia, Zoologia ou, num certo sentido, até mesmo Botânica, pela parte do plâncton). Isto poderia muito provavelmente constituir um pesadelo logístico, pelo que seria lógico verificar-se, algum tempo antes da visita (três, quatro meses?), qual será o número de interessados, algo que, dentro do género, já se faz actualmente, por uma razão semelhante.

   No sentido de garantir igualmente que os alunos usufruem ao máximo das visitas de estudo, parece-me não ser má ideia tentar simultaneamente diversificar o âmbito das visitas o mais possível (para que se possa contactar com o máximo possível de realidades práticas) e realizar regularmente as mesmas visitas (para que todos os alunos possam ter, dentro do género, as mesmas experiências). Admito que estas duas práticas estejam fortemente condicionadas pela disponibilidade de meios (sobretudo financeiros), das escolas e das famílias, mas, exactamente nesse sentido de retirar pressão sobre esses meios, creio ser bem pensado realizar as visitas de estudo intervaladamente, num ciclo de alguns anos, que não deve ser nem muito grande, sob pena de um aluno que falhou por pouco uma visita não voltar a ter a hipótese de a efectuar, nem muito pequeno, para não enfadar os eventuais professores assistentes e para não sobrecarregar os alunos com visitas e as famílias e as escolas com gastos diversos (e além disso porque o facto de se estar a falar de ciclos de visitas de estudo no âmbito dos Mini-Ciclos não implica que haja mini-ciclos de visitas de estudo…). A propriedade adicional de os alunos se poderem inscrever em visitas de estudo de outras escolas pode vir a facilitar esta gestão.

   Bom, no fim de mais uma entrada inconclusiva e inútil (mas antes escrever coisas assim do que não escrever de todo…), tenho, apenas, a agradecer aos leitores que chegaram até aqui por terem suportado durante tanto tempo a minha prosa vagamente (por vezes, mais que vagamente…) enfadonha e confusa, bem como as que não conseguiram chegar até ao fim por terem tentado (embora esses fiquem alheios a este agradecimento…). Deixo o habitual convite para se servirem do espaço de comentários.

   Se não escrever mais nada até lá, um Próspero Ano Novo a todos (tirando àqueles que se possam reger por um outro calendário, cujo ano não acabe esta semana; a esses, desejo-lhes, apenas, uma boa semana, já que não é ainda altura do seu ano novo…).

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