19 de abril de 2016

Das Faltas e das Soluções (Não Tanto da Falta de Soluções…)

   Os meus cumprimentos a todos os leitores, quem quer que sejam e onde quer que estejam. Tenho de vos agradecer por terem tido a gentileza de passar por aqui e ler mais uma reflexão minha, hoje nada de especial, mas talvez um pouco menos subjectiva que a anterior. Como o título vos permitirá concluir logo à partida, estou hoje aqui para vos falar das multifacetadas vicissitudes dessa prática fantástica de substituir, repor ou permutar as aulas que, por um motivo ou outro, não puderam ter sido dadas.

   Já se sabe que, se um aluno faltar, o problema é dele: o professor esteve lá (a não ser que tenha faltado também…), a aula foi dada, o aluno é que tinha o dever de assistir e não o fez. É bastante discutível se não seria melhor focalizarmo-nos mais na necessidade de fazer o aluno aprender, e não tanto na de garantir que o professor tem alunos que assistam às aulas (assim justificando o seu posto de trabalho e o seu vencimento…), ou seja, se não seria melhor focalizar o ensino nos alunos e não nos professores (no sentido em que o ensino deveria estar feito para assegurar a transmissão dos conhecimentos e não o emprego dos que colaboram para isso…), mas não é isso que está em causa. Queremos saber (e debater) o que raio se deve fazer quando, por qualquer motivo que seja, para agrado ou desagrado dos alunos, um professor tiver de faltar.

   Há duas garantias essenciais e inalienáveis, que deverão integrar toda e qualquer via de acção: o tempo livre dos afectados (alunos e professores) não pode sair prejudicado (pronto, se for apenas marginalmente, ainda podemos desculpar, mas não abusemos…) e a transmissão dos conhecimentos (leia-se a sua eficácia) também não. Isto talvez seja mais fácil de dizer do que de fazer, mas já lá vamos.

   De uma maneira geral, e como será óbvio (espero eu) para uma boa parte dos leitores, há essencialmente dois grandes tipos de situação de falta: aqueles em que, por compromisso inadiável, se sabe previamente que o professor faltará (o exemplo mais significativo, e também mais comum, será o de eventuais consultas médicas), e aqueles em que a falta é mais ou menos inesperada, súbita, provocada por um qualquer acontecimento imprevisível (como seja adoecer o professor ou um familiar de que ele tem de cuidar). Logicamente, as formas de lidar com um e outro tipo de falta terão de ser vagamente diferentes (mesmo que as alternativas sejam, em última análise, praticamente as mesmas), razão por que se fará uma análise separada das duas situações.

   No que toca às faltas com aviso prévio, a eventual antecedência pode permitir-nos lidar com a situação de uma forma mais elegante, efectuando (não sei bem com que grau de legalidade, mas também nem todas as leis e nem todos os regulamentos são dignos de serem seguidos, e há sempre coisas a que, pela sua maior comodidade, podemos todos fechar os olhos…) aquilo que comummente se designa permuta, que é, caso algum leitor não esteja bem ciente disso, a prática de pura e simplesmente dois professores com horários compatíveis (em termos de aulas e de compromissos) trocarem as suas aulas, dando o da disciplina A na hora da disciplina B e o da B na hora da A. Ora, isto faz todo o sentido, porque o número de aulas dadas não se altera com a falta do professor (que já não calha na hora da aula) e não há qualquer alteração do tempo livre dos alunos (já que, a bem dizer, o seu horário permanecerá rigorosamente igual, admitindo, claro, que todos os alunos têm as disciplinas A e B), mas tem o pequeno inconveniente de nem sempre ser possível encontrar professores com horários disponíveis para a permuta (facto ainda mais notório se tivermos em conta os Mini-Ciclos de Leccionamento, que trazem o constrangimento adicional de também se ter de ter em conta o horário de cada um dos alunos matriculados no mini-ciclo em causa, de modo a que a aula do professor que aceitou a permuta – e não a do que a pediu – não coincida com outra que alguns possam ter, e à qual teriam de faltar para ir à aula permutada por necessidade).

   Por outro lado, caso o professor saiba antecipadamente que vai faltar, também pode transmitir a sua planificação a um colega da sua disciplina e/ou área que tenha a disponibilidade, em termos de horário e em termos mentais, para dar a aula por ele, o que, mesmo podendo prejudicar parcialmente o processo de ensino-aprendizagem (pela eventual falta de habituação dos alunos ao professor e vice-versa, que faz com que nem sempre as coisas sejam transmitidas da forma que mais se adequa aos alunos em causa), apenas tem o potencial de afectar o tempo livre do professor que for dar a aula de substituição (mas que, em parte, poderá ser compensado por o professor que faltou dar substituição para cobrir uma eventual falta futura do professor substituinte), sendo, por isso, uma alternativa vagamente viável às permutas (sobretudo porque será menos difícil haver um só professor com disponibilidade do que um professor e uma turma – sobretudo em termos dos Mini-Ciclos).

   Há uma terceira alternativa, que é a da remarcação da aula para uma hora diferente, que, dentro do género, seja conveniente para todos, o que permitiria dar a aula sem grandes complicações e sem grandes diferenças do que se fosse na hora prevista. Há é o grande problema de a hora que, dentro do género, convenha a todos ter forçosamente de ser extra-horário, o que prejudica o aspecto importante do tempo livre (está bem que o professor também não veio no tempo correspondente à aula a que faltou, pelo que o tempo “livre” não foi afectado: o tempo extra-horário criado pela falta foi compensado pela aula extra-horário; quanto aos alunos talvez não seja bem assim, porque, apesar de terem um furo durante a aula, esse tempo – e qualquer aluno bem o sabe – não tem exactamente o mesmo aproveitamento que aquele passado manifestamente antes ou depois das aulas, a não ser, claro, que se dê o caso de a aula não dada ser a primeira ou a última, sendo isso equivalente a os alunos entrarem mais tarde ou saírem mais cedo). Além disto, pode, por vezes, ser difícil encontrar uma hora que convenha a todos, pela eventual existência de afazeres extra-horários diversos por parte dos envolvidos, mas, sabendo-se que o professor faltará com alguma antecedência, haverá, em princípio, tempo para tentar (e conseguir) chegar a um consenso.

   Então, no que toca às eventuais vias de acção possíveis aquando de uma falta antecipadamente conhecida, é isto. Por outro lado, no que toca às faltas mais ou menos súbitas, há algumas diferenças, que reduzem, ou condicionam, as potenciais vias de acção.

   A mais flagrante de todas será o facto de, pela natureza imediata e inesperada deste tipo de faltas, ser praticamente impossível arranjar uma permuta, por o professor que falta não poder combinar nada com os colegas, mais a mais porque, por vezes, estas faltas podem ter uma duração mais ou menos indeterminada, consoante o factor que as originou (pense-se no caso da doença: nem sempre se melhora logo…), levando a que o professor falte em mais do que um dia.

   Um pouco no seguimento disto, também será um pouco difícil recorrer a um professor substituto, por razões semelhantes às anteriores (impossibilidade de o professor que falta lhe transmitir indicações e também eventual necessidade de substituir muitas aulas). No entanto, este problema poderá ser atenuado se (como creio que já se faz, não sei bem com que abrangência, diria que na maioria das escolas, mas talvez esteja a efectuar uma generalização imprópria… corrijam-se se estiver errado, como, de resto, podem – e devem – fazer sempre…) se dedicar uma parte do horário dos professores à substituição de outros professores; o problema será mesmo ter os recursos necessários para que todos os professores que faltem sejam substituídos por um outro professor capacidade para dar a disciplina em causa, e não uma outra coisa qualquer (o que costuma suceder em muitos casos, gerando a abjecção da “ocupação lectiva de tempos livres”, que obriga os alunos a ficar na sala a fazer frivolidades e/ou nada, perdendo tempo potencialmente útil para outras coisas – ainda que essas coisas pudessem passar por asneiras e/ou ilegalidades diversas, o que justifica esta prática aos olhos de muitos, apreciação da qual se torna um pouco difícil de discordar terminantemente). É claro que isto é vagamente ineficiente, porque, quando nenhum professor falta, os professores designados para substituição não terão nada para fazer, mas talvez possam aproveitar esse tempo, quando desocupados, para realizar outras tarefas (burocracia, planificações…), como, de resto, ditaria o senso comum que se fizesse.

   Por fim, a remarcação acaba por ser a alternativa mais exequível, no sentido em que (a não ser que as faltas de prolonguem por muito tempo…) o professor pode, na primeira aula logo a seguir às faltas, agendar logo com os alunos as aulas de reposição necessárias, tentando, também, encontrar o horário que a todos convenha, ainda que a perda de tempo já consumada pelas faltas implique uma certa urgência na remarcação, o que pode atrapalhar o processo de encontrar uma hora que a todos convenha.

   Claro, todas estas vias de acção apresentadas serão, muito provavelmente, do conhecimento dos leitores, até porque correspondem ao que hoje em dia se passa (perdoem-me, então, a inutilidade de escrever tudo isto…). Aliás, para completar a lista, faltará (sem trocadilhos, está bem?) uma outra alternativa, aplicável com ou sem aviso prévio, que é a de pura e simplesmente se ignorar o facto de não se ter dado a aula e continuar como se nada tivesse ocorrido, o que é vagamente exequível no actual sistema de ensino (mais que não seja porque, de qualquer das formas, há aulas desperdiçadas – nem vale a pena pensar mais longe: as famigeradas famosas aulas da rebaldaria de final de período), mas seria pouco viável o abrigo dos Mini-Ciclos de Leccionamento (a não ser que permitíssemos que o leccionamento de cada mini-ciclo se estendesse pelo tempo que fosse necessário, ainda que isto complique ainda mais toda a organização logística da coisa, razão por que, pelo menos, até todo o sistema ter entrado bem nos eixos, com a plataforma e tudo, seria melhor optar-se por não o permitir). No sentido, então, do que disse antes, e como o principal propósito do blog é mesmo o de melhorar o ensino (nunca lá se chegaria pelo nome, não é?), teremos, então, de apresentar eventuais formas de melhorar isto.

   Já sabem o que eu penso acerca do actual sistema de ensino, não sabem? Que deveria ser alterado radicalmente, muito radicalmente, para uma organização melhor e mais agradável, que, para mim (e espero que para pelo menos alguns de vocês…), passaria pelos Mini-Ciclos de Leccionamento. Perdoem-me, portanto, o erro do costume, de me deixar levar pelas minhas convicções (recuso-me a vê-las como ilusões…) e analisar e construir as propostas de melhoramento ao abrigo deste paradigma alternativo, porque propor melhorias só para um aspectozinho deixando erros no resto é pouco mais que inútil, e a minha forma de corrigir o resto corresponderia aos Mini-Ciclos.

   Ora, havendo Mini-Ciclos, teremos a questão do horário individual e individualizado dos alunos, consoante as suas escolhas, e isto praticamente impossibilita permutas, como já disse algures lá para trás, a não ser que todos os alunos do mini-ciclo do professor que falta sejam também os únicos de um outro professor com horário compatível (ou, então, que os alunos do mini-ciclo permutado sem ser por falta tenham a sorte de ter a hora do mini-ciclo a que o professor faltaria desocupada, o que talvez fosse muito pouco provável…). Assim sendo, esta não é uma solução admissível.

   Por outro lado, e também como referi anteriormente, seria demasiado complicado, em termos logísticos, caso os mini-ciclos se pudessem arrastar no tempo, ad infinitum, e, pela sua curta duração, não se poderia propriamente perder aulas (já que não haveria a necessidade de se ter aulas “para encher” e/ou para obedecer aos constrangimentos do calendário escolar), sob pena de prejudicar a aprendizagem dos conhecimentos em causa (que, em princípio, será o objectivo central do ensino). Tudo isto nos levará, então, a concluir que a solução de se ignorar o facto de se ter faltado também terá de ficar de parte.

   Restam-nos, portanto, duas soluções: substituir e remarcar (assim escrito quase parece uma qualquer táctica militar e/ou desportiva…). Ora, para que a substituição corresse bem (e ignorando completamente as ocupações lectivas de tempos livres, que têm ainda menos razão de ser ao abrigo dos Mini-Ciclos porque as aulas estariam vocacionadas para transmitir conhecimentos e não para perder tempo com tarefas de chacha…), teríamos de ter uma grande dose de professores à mão, de modo a poder cobrir todas as falhas, e isso iria aumentar mais ainda as já significativas necessidades de recursos deste sistema de ensino alternativo; podemos, para atenuar esta necessidade de recursos, recorrer mais uma vez às aulas à distância (gerando algo como “vídeo-aulas de substituição”?), com um professor centralizado a dar, via vídeo-conferência, a aula de substituição aos alunos que dela possam necessitar, mas isto não elimina o problema subjacente.

   Nesse sentido, a remarcação de aulas parece ser a única solução que falta analisar. Temos, claramente, um problema muito análogo ao que se passa com as permutas: as grandes diferenças que os horários dos alunos de um mesmo mini-ciclo podem apresentar tornam praticamente impossível encontrar uma hora livre que convenha a todos. Só que, ao contrário do que se passa com as permutas, talvez possamos dar a volta a isto: conforme já proposto no texto dos Mini-Ciclos, especificamente na Inovação, podemos criar um certo período de tempo (creio ter sugerido a tarda de sexta-feira, ou parte dela) exclusivamente para aulas de reposição (daí que se lhe chamasse “período de reposição”), estando desimpedido se não houver necessidade de as ter, e só se tendo de jogar com as aulas de reposição dos vários alunos do mini-ciclo em causa de modo a arranjar uma hora conveniente (ou seja, só se teria de garantir que a aula não calharia à mesma hora que outra aula de reposição que alguém no grupo de alunos que frequenta o mini-ciclo possa ter, e, sendo, de uma maneira geral, pouco provável que uma grande quantidade de professores falte ao mesmo tempo, isto não deverá ser muito difícil de se gerir…). Esta será, porventura, a forma menos problemática de garantir que as aulas são dadas, e nunca é de mais relembrar que a ausência de testas, trabalhos e males semelhantes, ao abrigo dos Mini-Ciclos, implica que o eventual impacto que estas reposições possam ter no tempo livre dos alunos seja muito menos significativo (além de que este “período de reposição” não é tempo livre… é, apenas, um segmento do horário raramente utilizado para fis oficiais, se me permitem a pouco clara distinção, mais retórica do que semântica, e mais semântica do que lógica…).

   Chegámos, pois, ao fim desta reflexão acerca das aulas de substituição. Mas isto não ficaria completo se não frisasse que, em última análise, numa situação ideal, aliás, numa situação mesmo ideal, não seria necessário haver aulas de substituição, porque não haveria motivos para se faltar, só que, como bem sabemos, as coisas ainda não estão tão ideais quanto isso e, por isso, este é um problema com que temos e, tanto quanto o futuro nos deixa ver, teremos sempre de lidar.

   Temo mais uma vez ter sido demasiado ligeiro, demasiado superficial ou demasiado… enfim, estúpido na minha abordagem, e lamento imenso por isso, mas, por qualquer razão, não tenho conseguido encontrar temas ou reflexões mais pertinentes. Aceitam-se sugestões, como sempre, além de comentários e críticas. Já sabem que têm o espaço de comentários, aí em baixo, à vossa espera e à vossa disposição.

   Um bom dia (ou tarde, ou noite) a todos e até à próxima.

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