5 de setembro de 2016

Poesia Contestatária II

   Caríssimos leitores, estendo até vós as minhas mais cordiais saudações, de novo, e, pelo título, saberão já que esta será mais uma entrada não em prosa. As minhas mais sentidas desculpas a quem ficar incomodado por isso, mas devo admitir que os temas me continuam a eludir, e, em vez de tentar desencantar alguma coisa para dizer, o que resultaria numa reflexão inútil e/ou desinteressante (pronto, mais ainda do que as restantes…), decidi recorrer ao estratagema já não inédito de há cinco entradas e colocar aqui um poema inútil e desinteressante, para, enfim, ter algo para dizer. Chama-se A Escola da Inutilidade e tem tudo a ver com o ensino, como não poderia deixar de ser.

A Escola da Inutilidade
Chega Setembro,
E ressoam os passos das crianças
Nas pedras da calçada:
Carnes jovens,
Mentes jovens,
Sangue fresco,
Marcham todos,
Em fila indiana,
Rumo à sua casa derradeira
No estabelecimento escolar mais próximo.
Lá dentro,
Simpáticos e sorridentes,
Os professores;
Cá fora,
Sorrindo e acenando,
Os pais.
E uns a puxar,
E os outros a empurrar,
Conseguem todos,
Finalmente,
Forçar de um modo amigável
As crianças a entrar na escola.

Sentam-se todos,
A bem,
Ou a ma1,
E, enquanto aprendem
As migalhas de conhecimento
Que, resignadamente,
Lhes querem dar,
Mal sabem
Que entretanto bebem
Um sem-fim de manipulações,
E, ao fim de uns tempos,
Já tão aturdidos estão
Que tomam a bebida por comida
E já nada mais querem,
E já nada mais perseguem,
E já nada mais procuram
Que as verdades que convém terem,
E não as que poderiam atingir
Se se desse o (infeliz) acaso
De saberem toda a enormidade de coisas
Que, desde sempre, lhes têm escondido,
Dizendo que é para depois,
Ou para mais tarde…

Mas eu digo que basta de ilusões,
Basta de joguinhos,
De sombras e de espelhos!
Basta de imposições arbitrárias,
De limites sem razão nem motivo,
De escolhas forçadas,
De abdicações forçadas,
Só porque as coisas são assim!
Digo que basta,
Sim, basta,
De “é a vida”,
De “é assim”,
De “sempre assim foi,
E sempre assim será”!
Nada é absoluto,
Nada é definitivo,
Nada tem de ser
Seja o que for que é!
Pois eu digo
Que é tempo de tomarmos das mãos dos outros
As rédeas que nos controlam os freios!
Pois eu digo
Que é mais que tempo
De pensarmos por nós próprios,
De agirmos por nós próprios,
E de pormos um ponto final
Nesta imbecilidade,
Nesta perversidade,
Nesta obscenidade,
Nesta calamidade,
Da escola da inutilidade…

E era isto. Obrigado por lerem (ou apenas por visitarem, mas já sabem que, se não tiverem lido, nunca saberão que vos agradeci…), as minhas desculpas, mais uma vez, a todos queles que não gostaram desta ruptura das temáticas e das formas habituais, e espero que nos reencontremos todos na próxima entrada, que, se tudo correr bem, será já em prosa…

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